Respiração
Uma constante sensação de sufocamento, de desespero por fazer o que, eu sei, lateja dentro de mim, ferve tão profundo e intenso quanto lava. É uma voz engasgada, os dentes crispados e um desejo imbatível, incontrolável, de ser a Arte que me inunda, transborda, revolve no interior. O que tenho aqui precisa de espaço, de infinito, de horizonte, de tempo... Do tempo que me roubam para sobreviver sendo quem não sou, fazendo o que não é. O que mora dentro de mim precisa ser. E o como não deixa e as horas passam e a minha sanidade vai embora e os meus dias se esvaem e eu morro sem ter realizado o que a minha mente, superpovoada de sonhos, histórias, devaneios, queria fazer existir. Metade da minha vida, se eu tiver muitos anos, já se passou. O que fiz? Afoguei projetos, sufoquei de asma, corroí meu estômago, tentei colocar para dormir os meus ideais. Mas insones que são, é a mim que acordam no meio da noite para me lembrar dos débitos que não quitei com os dons que recebi, com o que deveria de fato viver. Deus, mundo, como viver assim? Estou morrendo a cada dia para viver uma vida que passa em branco quando enxergo em tudo tanta cor. Preciso de telas, preciso de mundo, preciso de Arte para continuar respirando.