Poesia noturna em Brasília
(Alessandra Matias Querido)
Estou indo para casa.
Vou dormir.
O pé mal toca o acelerador.
Mil carros passam por mim.
Faróis,
Faróis,
Faróis...
Tanta pressa...
Tão bonita a cidade...
Mil luzes!
Árvore gigante beija o céu,
Faz sumir as estrelas.
Passo sob cascatas de luz,
O brilho extasia,
Dança diante dos olhos.
Estou indo para casa.
Vou sonhar...
Feliz Natal!
Paro no sinal,
Imagem da dor para ao lado do carro...
Feliz Natal...
Os olhos viram mar.
Estou indo para casa,
Vou estar sozinha...
Vou deixar a noite engolir meu ser...
Noite que venero,
que me entristece,
que traz à tona velhas histórias,
que passo na esperança
de mais um dia que virá.
Amanhã, o sol retornará!
Estou indo para casa.
Ficarei ali
Sentada ao lado das memórias,
Dialogando com o interior.
Como outros poetas,
Direi a mim mesma:
“Preciso dormir”
Já sabendo que a noite,
Tentação das tristes almas,
(como sempre)
Vencer-me-á.
Sonharei acordada,
Nessa difícil tarefa
De viver trancada no coração,
Amante da noite escura,
Escrava da minha emoção.