"Juntos e shallow now"
Em volta de mim, uma música de letra ofensiva e misógina em um volume insuportável. Está tão absurdo que começo a conjecturar o significado da palavra volume. A impressão é a de estar acuada, que o “volume” é uma manada de elefantes que me cercam, sem que consiga ver uma saída. Desesperador é a palavra. Tento me desconectar do universo circundante, ouvindo outra coisa nos fones, mas não é possível concorrer com os tambores que lancetam meus ouvidos e retumbam no meu peito contra a minha vontade. Sei que as pessoas gostam do agito, adoram dançar. Não é que não goste também. Gosto e muito! É o excesso que assusta, é a falta de reflexão sobre o que cantam que me angustia... Acho que as pessoas estão ficando surdas. Não acho, tenho certeza. De outro modo, não aguentariam tanto por tanto tempo.
Vontade de ir lá e pedir às pessoas que parem um pouco. Será que ninguém se toca? Não, agora dançam em sincronia... Nossa, quando foi que me perdi deste mundo? Quero descer! Não aguento mais a agonia das pessoas na rua, numa sangria incontrolável, numa vontade de chegar. Aonde? Parecem correr para se jogar no abismo, porque vazio, muito vazio é o que enxergo ao redor. As pessoas gostam de música? Sabem por quê? Entendem o que ouvem? Observam o que falam? Reproduzem um sem fim de coisa alguma...
Será que estou ficando rabugenta? Queria que fosse só isso, mas a superficialidade dá o tom de tanta coisa hoje em dia... No som que entorpece para não nos fazer pensar. No relacionamento de uma noite de amassos e nenhuma mensagem trocada (afinal, é preciso variar). No estudo raso de um assunto interessante, porque não temos tempo a perder (saber o mínimo é suficiente). Na desistência dos sonhos, porque vai demorar demais alcançá-los (produtos chegam na minha porta, sonhos também não?). Ainda não inventaram o upload de habilidades e conhecimentos como em Matrix? Puxa, que pena...
Na verdade, penso nisso. Penso se algum dia chegaremos a algo assim: delivery de sonhos. E me desespero com a possibilidade, porque da maneira como caminhamos, seremos mais máquinas do que gente. Menos humanos, cada vez menos...