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Em busca de sentido

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Quem é alucinado por histórias em romances literários, filmes e canções, normalmente enfrenta o imenso problema de terminar a vida como Bovary ou Quixote. Porque tudo parece enfadonho, porque se quer a intensidade dos sentimentos, das aventuras e dos dramas que condensados em páginas, em horas, parecem tornar a vida mais palatável. No entanto, a realidade, apesar de matéria das histórias, não se faz de tanta intensidade todo o tempo. O que o artista compõe é recorte do que interessa à narrativa. Na vida real não se apagam as partes chatas e as partes dolorosas não têm a poesia que decora as histórias, mas devora a nossa alma na realidade. O estranho é que só vê poesia nas histórias, mesmo nas partes mais cruéis, quem se deixa envolver pela vida de forma arrebatadora. O paradoxo dos sensíveis: querer viver como se fosse o último dia e ver que a maioria deles são intervalos monótonos; colocar em versos e histórias o que se tem por dentro, mas entender que aquilo também não é ainda a vida. Que loucura querer decorar a monotonia dos dias e perceber que não é possível viver nos sonhos, na imaginação, no devaneio... Entendo Quixote. Entendo Bovary. Tento entender a vida. Vez em quando, pesa demais. Volto-me para as páginas, volto à realidade... Vou vivendo. Um dia de cada vez. Esperando que, em alguns momentos, minha narrativa seja mais intensa e interessante. Ou talvez, esperando entender o sentido da minha história ainda em construção...

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